Mais uma carta qualquer de amor

Marcio H.
4 min readFeb 12, 2022

Fecho os olhos. Ao fundo, violinos e violoncelos tocam lentamente e entro em meu próprio mundo de fantasia, desejo e amor. Um mundo que é só meu e de quem eu quiser e apenas nós dois ao mesmo tempo.

Me disseram para ter calma, estou tendo, estou observando e levando tudo da maneira mais simples possível. Sem pressa, afinal amor às vezes ele vai e vem, e parece que vai partir mas no final das contas o adeus virou apenas um até logo sem que você ao menos percebesse.

O amor é simples, é inocente, é uma forma de expressar o que há de mais puro dentro de você e é assim que a gente se coloca na frente dos outros em tantas e diversas formas que às vezes as pessoas nunca que vão imaginar. Em uma carta, um pensamento, uma comida, uma música ou um olhar.

Silêncio. Respirando fundo e agora percebendo a dimensão que a vida nos traz quando pensamos bem o que é amar. É uma conexão tão forte que une e separa as pessoas de maneira tão repentina. Eu não sei exatamente como definir de forma concreta um sentimento tão plural.

Rosas no chão e um raio de sol no horizonte, imagino. Caminhando com os pés descalços em um campo gramado sorrindo. Imagina o tanto que é inocente fazer isso, sem se preocupar com nada à sua volta. É assim que me sinto quando amo puramente alguém e só esse alguém. Sem complicações, de maneira tão leve e solta que me esqueço onde a imaginação largou de ser algo intocável para virar uma realidade. Chega a ser assustador a maneira que a gente se vê, afinal, estamos tão acostumados a regras que deixamos de lado a inocência.

Amor demais é exagero. Amor de menos dói. Como fazer esse balanço sem perder a cabeça ou prender outra pessoa ao mesmo tempo? Acredito que pode ser quase impossível às vezes. Agora não estou, definitivamente, falando de amor próprio que é o primeiro e mais simples que você deve ter e é exclusivamente contigo mesmo, mas estou falando do amor de duas pessoas.

Ele e ela. Ela e ela. Ele e ele. Seja lá quem for, somos animais que se juntamos aos pares para viver memórias. Sim, memórias, criamos elas a todo momento inclusive. Uma mensagem besta, um abraço inocente, um sorriso ou um olhar profundo que diz muito mais que palavras que jogamos ao vento através de nossas bocas. A gente complica o amor humano. Deveria ser tão simples e descomplicado, mas a gente insiste em erros grotescos de nosso passado a todo instante.

Passado, e futuro são duas coisas tão complicadas de se pensar. O presente está acontecendo, mas como você pode planejar algo se você não pode obter respostas tão momentâneas e tão imediatas? Me peguei aqui comigo mesmo sem ter uma resposta de quão longe eu poderia ir comigo mesmo desta vez.

A música que se acelera, juntamente com os batimentos de dois corações juntos ou um coração partido. Um sorriso ou uma lágrima que cai do rosto. É inesperado e tão belo ao mesmo tempo que tentamos entender o porque estamos sentindo aquilo mesmo sabendo que na maioria das vezes não há nenhuma explicação lógica para amar alguém.

Amar alguém, se entregar. Dizem por ai que é algo como preencher o outro ou completar sendo a tampa da panela de outro alguém, mas eu não vejo bem assim. Somos completos, apenas deveríamos multiplicar, somar em vez de preencher casas decimais. Mas se entregar, isso sim, se jogar ao desconhecido porém aprendendo a colocar limites em você mesmo.

É cedo demais para dizer algo, e é necessário se conhecer primeiro antes do próximo passo, mas tudo tem que ser feito com calma. Calma. A palavra que mais ouvi nos últimos tempos nunca fez tanto sentido quanto agora. A cada hora repetida que observo me diz que estou seguindo meu caminho porém eu preciso de ter exatamente a calma que me falta. A impaciência de querer amar alguém é o que nos leva a não ver o que a pessoa tem por dentro ou o que ela é de verdade e então acabamos com nossos corações quebrados repetidas vezes.

Falando em corações quebrados, eles não quebram de verdade. Sabe o que acontece, na realidade? Eles ficam mais fortes. Não apenas o coração mas também a cabeça. Não é porque todo mundo que está à sua volta está fazendo alguma coisa a dois é que você também tem que fazer. Mas mesmo assim, a gente sente falta de um abraço sincero, um carinho, um afeto de alguma forma.

No final, voltamos à família, o nosso berço de partida e também nossa cama de chegada, o qual nem sempre é no mesmo lugar ou com a mesma composição. Crescemos ao som dessa música lenta, acelerados e então ela se silencia. O amor é o principal compositor do que estamos ouvindo de olhos fechados. Ele está ali conduzindo o sorriso e o choro, também a respiração mais profunda ou somando ou multiplicando o que somos hoje.

Na verdade, nem é mais uma carta de amor. É uma reflexão do que somos, de como vivemos. De como viver algo idealizado porém com a cabeça erguida em saber que nem sempre será tudo perfeito e harmonioso por mais que a gente ache que é. Apenas devemos esperar que o inesperado aconteça e estar abertos para novos movimentos.

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Marcio H.

Brazilian, expat, designer, writer, YouTuber, full-stack dev, early adopter, AI bots dad, human, gemini, Slytherin.